Com certeza você já viu em algum texto por aí palavras escritas de maneira diferente como Todxs ou Amig@s, e possivelmente deve ter escutado alguém se referindo a um grupo diverso de pessoas como todes ou iles. Ambas as formas de expressão representam um movimento que tem a intenção de tornar nossa forma de comunicar mais inclusiva e tolerante.
A necessidade de alternativas mais inclusivas para a comunicação, surgiu a partir da percepção por alguns grupos de que a diversidade de gêneros existentes na realidade não é representada na nossa linguagem. A forma como falamos e escrevemos reproduz nossos valores e crenças que ao longo de muitos anos carregam estereótipos e preconceitos que por esse motivo automaticamente são naturalizados, reproduzidos e perpetuados em nossa forma de comunicar.
O português, assim como outros idiomas com origem do latim, possui fortes marcadores de gênero, o que significa que mudamos a forma como escrevemos ou falamos algumas palavras do nosso idioma de acordo com o gênero em questão. Isso acontece com os substantivos, adjetivos, artigos e pronomes: falamos meninas e meninos, bonitas e bonitos, eles e elas, e por aí vai, assim, temos palavras consideradas masculinas e femininas, mas quando queremos falar de forma genérica ou no plural, é o gênero masculino que se considera o correto para representar o todo. Então se estamos falando de um grupo composto de meninos, meninas ou mesmo crianças de gêneros distintos, o correto segundo a norma da língua é usar “eles” ou “todos” para se referir ao coletivo.
Aprendemos e adquirimos o hábito desde anos 60 quando foi determinado o uso do masculino para falar de forma genérica, por isso pode parecer impossível mudar nossa forma de comunicar agora a essa altura do campeonato, mas basta olharmos ao redor do mundo e encontramos idiomas com gênero neutro em diversos lugares como o turco, o finlandês e até mesmo o inglês é considerado um dos idiomas de gênero neutro, Já que quase não possui marcadores, sendo substantivos, artigos, adjetivos e pronomes em geral palavras únicas que representam o qualquer gênero.
Então, a proposta de uma linguagem mais inclusiva é completamente possível e é importante na medida em que desconstrói o padrão de masculino como universal e desarticula o uso sexista da língua que só reafirma relações de gênero desiguais.
Sendo assim a linguagem inclusiva é basicamente comunicar sem excluir ou invisibilizar nenhum grupo e sem alterar o idioma como o conhecemos. Essa linguagem propõe que as pessoas se expressem de forma que ninguém se sinta excluído utilizando palavras que já existem na língua. Usando por exemplo: todos e todas, eles e elas... o objetivo é abranger tanto homens quanto mulheres.
E a linguagem neutra ou não binária, embora tenha o mesmo propósito, apresenta propostas que alteram o idioma e incluem novas grafias como: todes, tod@s, amigxs... pois veem a língua como mais uma ferramenta de perpetuação de desigualdades
Trazendo isso tudo para o ambiente corporativo, trabalhar em prol de uma linguagem inclusiva é um passo importante para aquelas empresas que desejam ser reconhecidas como parte importante do contexto social onde estão inseridas. Além disso, traz benefícios ao ambiente organizacional uma vez que os funcionários e colaboradores tendem a sentir-se mais incluídos e terão maior sentimento de pertencimento.
Mas para que isso funcione não basta utilizar uma linguagem inclusiva, é preciso adotar também uma comunicação mais aberta e uma postura disposta a entender e acolher verdadeiramente as diversidades, por isso vou deixar aqui algumas dicas de práticas que você pode adotar dentro da sua organização para começar aos poucos:
Visibilizar e identificar todos os gêneros, inclusive aqueles que se identificam com gêneros neutros;
Valorizar, respeitar e acolher a diversidade;
Não privilegiar algumas pessoas em detrimento de outras;
Gerar reflexão sobre a desigualdade de gênero em outros âmbitos para além da linguagem.
Perguntar às pessoas como querem que se dirijam a elas e com qual pronomes se sentem mais identificadas.
Não utilizar adjetivos ou palavras que qualifiquem os indivíduos com base em seu gênero ou que transmitam convenções sociais estereotipadas. Alguns exemplos: “essa pessoa chora como uma mulher”, “tinha que ser mulher”, etc.
Não utilizar expressões consideradas preconceituosas, racistas ou capacitistas: “denegrir”, fazer algo “nas coxas”, “a coisa tá preta”, entre outras, são expressões racistas que temos incorporadas ao nosso dia a dia.
Ter dentro da organização alguém que seja responsável por exercitar e pensar essas práticas.
Proponha atividades que fomentem a adoção de uma linguagem inclusiva diariamente e não apenas nas campanhas ou materiais institucionais
Dar preferência a palavras que representam a coletividade, por exemplo usar “a juventude” ao invés de “os jovens”, “pessoas beneficiárias” ao invés de “beneficiários”, “diretoria” ao invés de “os diretores”, etc.
Escolher substantivos que representam instituições ao invés de indivíduos: “classe política” ao invés de “os políticos”, “população indígena” ao invés de “os índios”, “poder judiciário” ao invés de “os juízes”, etc.
Reformular tempos verbais para que as frases sejam mais inclusivas e menos sexistas: “se tiver uma melhor formação, a polícia será menos racista” ao invés de “se os policiais tivessem uma formação melhor, o racismo diminuiria”, etc.
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